Semana de revisão

 


 
O Convite do Amor

 
Nossa Resposta

 
A Compaixão de Deus na Missão de Jesus

 
Deus Prepara o Caminho

Os Servos estão Abertos

 
Sentimos que Nasceu para nós


Semana de Revisão 15a

Pausa para Rever as Graças que Recebemos

Guia: Avaliação

Nos Exercícios Espirituais, Santo Inácio pede aos diretores/orientadores para lembrar a quem faz o retiro o quão importante é “permanecer” onde “encontram frutos.” As semanas passadas do retiro ofereceram-nos graças intensas. Esta semana de revisão não nos traz material novo. O material para esta semana prende-se ás graças que recebemos ao longo das semanas anteriores.     

Seguindo a nossa experiência de sermos amados como pecadores, tivemos a graça de ser convidados a seguir Jesus. Lembramo-nos da nossa resposta pessoal para segui-lo e o nosso desejo, cada vez mais intenso, de conhecê-lo e estar com alguém que nos ama tanto. Começamos por permitir-lhe que nos contasse a história do plano de Deus e a sua vida. Refletimos sobre o seu próprio chamado e como Deus lhe preparou a vinda ao longo da história da aliança nas Escrituras Hebraicas. Envolvemo-nos na história de seus pais, das pessoas ao redor, quando veio para nós pelo poder do Espírito Santo. Finalmente, achamo-nos no estábulo onde nasceu para nós. Esta semana do retiro é um convite para ficarmos lá algum tempo. Talvez estivéssemos ocupados demais para absorver tudo isto. Talvez não fizéssemos conexão entre a chegada em meio à pobreza daquele estábulo e a chegada em meio à pobreza de nossas vidas.

Ao acordarmos toda a manhã esta semana, lembrar-nos-emos de alguma graça pela qual somos gratos. Pode ser a mesma graça a semana toda. Pode ser, simplesmente, fazermos a nossa casa naquele estábulo para estar lá com Jesus.      

A graça que desejamos esta semana é sermos puxados para o íntimo de Jesus. Os recursos para esta semana ajudar-nos-ão a começar, a levar-nos mais fundo, a achar palavras para rezar. 

Permitiremos que as nossas reflexões encontrem o caminho para o background do nosso dia-a-dia. O que quer que enfrentemos cada dia da semana pode tornar-se parte dos mistérios que temos contemplado se nós deixarmos. Qualquer experiência humana é igual à experiência humana de Jesus e esta semana vemos e amamos tal semelhança atingindo-nos mais profundamente.

Finalmente, à noite esta semana, agradecemos pelas novas graças que estamos recebendo. Por alguns momentos – ao preparamos para ir para a cama – possamos sentir gratidão pelos momentos do nosso dia que nos conectaram com Jesus, que veio ao mundo para estar conosco na nossa experiência humana e convidar-nos a juntarmo-nos a ele na sua missão.

Ajuda Prática para Começarmos Esta Semana
 
Para começarmos esta semana, devemos ter em mente que esta semana é diferente das anteriores. É uma semana para rever, permanecer e saborear. Não fazemos isso porque não estamos interessados em ir em frente, mas porque estamos interessados em nos certificarmos que recebemos tudo que nos foi oferecido. A analogia usada aqui não se assemelha à de ler um bom livro, fazer uma pausa para lê-lo outra vez de cabo a rabo. A melhor analogia é a seguinte: Um amigo mostra-me o álbum de fotografias da família e vai um tanto ou quanto apressado pelas primeiras páginas. Posso pedir ao meu amigo para ir mais devagar dizendo: “Oh, estas são maravilhosas. Vamos vê-las de novo. Veja como a sua mãe está jovem aqui. Esta é a casa onde você passou a infância? Olhe só a força do olhar do seu pai! Oh, esta fotografia diz o que você é, mesmo ainda bebê.”

Outra forma de descrever o que estamos fazendo esta semana é dizer que estamos rezando, não com material novo, mas com as graças que recebemos nas semanas passadas. Tomo o que me deram e aprofundo-me na dádiva para lá ficar, para saboreá-la. Assim procedemos porque sabemos que as dádivas freqüentemente implicam outras dádivas. Esta semana recolhemos os presentes que recebemos e vamos abri-los para descobrirmos que mais nos oferecem.     

Faremos isto apreciando o que recebemos em meio ao nosso dia-a-dia. Se as graças destas semanas -- pedido e resposta, o senso do plano de Deus, como Deus se torna humano para mim – são presentes para a minha vida real, então terão significado para mim no âmago da minha vida real.

                Disse que quero estar com Jesus na sua missão. Hoje eu quero simplesmente saborear tal escolha e todas as tarefas do meu dia.

                Entendo como a Encarnação foi um plano de Deus para nos salvar. Hoje quero conscientemente aceitar ser carne – incluindo  
                toda a maravilha, todos os limites, toda a pequenez do meu corpo. Momentos concretos ao longo do dia dar-me-ão a oportunidade 
                de me aceitar tal qual sou – com o corpo e identidade que herdei; com as escolhas que fiz; com a minha condição física, minha saúde,
                minha  debilidade.

                Vi e fui tocado (a) pela Natividade. Tive a graça de, provavelmente, contemplar como Jesus se tornou um de nós, talvez entrando em cena,
                com aquelas lembranças ainda recentes e comoventes. Hoje quero andar pela minha vida percebendo a tensão na minha cultura a resistir a entrar,
                ficar num estábulo como aquele. Vou notar – e lá no background, remoer – exatamente quanto consegui entender os esforços do nosso mundo         
                para ocultar os simples, os nus, a pobreza da existência humana. Talvez esta semana, eu, conscientemente, tente ser eu mesmo (a), ser mais  
                transparente. Posso tentar notar como um dia seria se tentasse não impressionar os outros com coisas que são meramente externas, mas
                simplesmente estar com os outros com cuidado.

Cada dia desta semana, tento achar outros meios de rever, ficar, e saborear mais intensamente os presentes que Deus me oferece durante esta caminhada especial para ver Jesus mais claramente, amá-lo mais intensamente e segui-lo mais de perto, dia após dia.

Para a Caminhada

Inácio deixar-nos-ia ficar algum tempo em meio à pobreza e humildade do estábulo. O nascimento da criança começa a dizer-nos quem ele é. Estes acontecimentos e as condições ao nosso redor são palavras importantes aqui, no começo desta longa declaração de amor.

Sentados, observando tudo ao nosso redor, é bom saber se estamos ansiosos por estarmos lá. A presença é tudo se vamos nos familiarizar com os caminhos de Jesus. Para que apressar-nos? Observamos e escutamos. Nas nossas imaginações, quem sabe, os nossos entes queridos venham visitar-nos lá. O que lhes contaremos sobre o que presenciamos?  Talvez rezemos para que os nossos velhos amigos encontrem os nossos novos amigos. Há alegria em nossos corações ao irmos pé ante pé até onde Maria está com o menino ao colo? Há uma familiaridade reverente dentro de nós ao sentarmo-nos e falarmos com José e os nossos visitantes?  

A maneira de conhecermos os fatos é bem diferente daquela de conhecermos as pessoas. Jesus, Maria e José são pessoas e Inácio nos incluiria lá no estábulo para conhecê-los a todos aqueles que veremos nas semanas vindouras. No processo de nos tornarmos amigos, há vários estágios. Observamos, escutamos e recebemos o que nos oferecem. Tornamo-nos conhecidos, depois amigos e depois companheiros. Estes dias estamos prontos para ver e ouvir.        

É bom para nós ir devagar até chegar perto, cada vez mais perto da criança e da realidade deste acontecimento capaz de grandes mudanças no mundo. O que há de misterioso que se manifesta neste lugar tão pobre? O abraço do Deus amoroso estende-se desde esta pequeninha cave para todo o planeta. Este Deus vem para o estábulo de cada um de nós se lá houver espaço para ser acolhido. De certa maneira, depois de Belém não há nada novo para ser visto, mas muito para ser entendido. Os julgamentos de Deus não são os nossos. Os caminhos de Deus são mais altos e os julgamentos de Deus do que é importante são mais baixos e encontram-se neste lugar humilde onde só os simples vêem e acreditam.  

Então, sentamo-nos por alguns instantes no feno e começamos a aceitar. Aceitamo-lo pouco a pouco, dia após dia, nos nossos próprios estábulos. Admitimos o mistério, o incalculável mistério. Admitimos que Deus nos ama de modos estranhos. Admitimos que os caminhos de Deus atraem-nos. Admitimos que é necessário  ficar aqui um pouco mais e observar o nosso espírito elevar-se.

Com estas palavras ou semelhantes

Querido Jesus,
Estou em casa. Neste estábulo contigo, Maria e José. Está frio, cheira mal e eu piso esterco de vaca e imagino se há pouco não me teria sentado em cima dele. Mesmo assim, estou tranqüilo, feliz.

Parece que eu nem sempre me sinto pronto para estar contigo. Certa vez, imaginei ter deixado todos a esperar lá fora antes de entrares, até que eu varresse o estábulo, lá pusesse feno limpo, limpasse os meus sapatos e conseguisse roupas quentes para todos nós.

E como eu gostaria de ser uma pessoa melhor! Isso é o que realmente vejo na escuridão do estábulo, a escuridão do meu coração. Eu não estou insatisfeito com o local, meu Jesus – estou insatisfeito (a) comigo. Sou digno de estar aqui contigo? Somente agora ao olhar para ti e para os teus pais eu sinto tão profundamente o amor neste estábulo acanhado, escuro. As tuas mãozinhas estão ainda fechadas e quando estendo um dedo tu o apertas com firmeza. O meu Senhor e Salvador está segurando a minha mão! Inundado de alegria e lágrimas, neste momento, nós, juntos, em um tipo de intimidade que liga os seres humanos desde o princípio dos tempos.     

Querido menino Jesus, ajuda-me a espreitar além da luz tênue deste estábulo para dento da escuridão do meu coração. Deixa-me sentir ainda mais profundamente que eu realmente estou em casa, aqui, neste lugar onde o meu maior feito é estender o meu dedo para que o agarres. Ajuda-me a entender que tu não vieste para estares comigo em um tipo de perfeição fora da realidade, mas comigo tal qual estou agora, com estrume até os tornozelos, as lágrimas a escorrer-me pela face empoeirada e eu a sorrir alegremente ao olhar os teus pais, uma vaquinha e dois bois a cochilar! 

Nada disto parece enquadrar-se na minha tão ordenada vida. No entanto aqui estou em uma situação imperfeita no que parece ser a perfeita felicidade. O meu coração cheio de gratidão para contigo, olho a tua face com profundo amor. Obrigado (a) por tudo que significas na minha vida. Obrigado por vires até mim, para todos nós, porque estamos nossos próprios estábulos, na escuridão, imaginando o que possa vir depois.