A Compaixão de Deus Envia-nos Jesus
Respondemos ao convite de Jesus, aquele que nos ama. De certa forma, expressamos o nosso desejo de estar com Jesus na missão que Deus lhe deu. Agora entregamo-nos aos anseios deste relacionamento de companheirismo amoroso.
Quando amamos alguém cada vez mais – especialmente alguém que fez tanto por nós – experimentamos um forte desejo não somente de estarmos com a pessoa que amamos, mas também de sabermos tudo sobre tal pessoa. Fascinados, dizemos que não conseguimos o suficiente da pessoa que amamos.
Para esta semana
e para as vindouras o nosso único desejo é conhecer, o máximo possível, Jesus.
Naturalmente, isto não é conhecimento
cerebral. É mais o tipo de descoberta que conduz a sentimentos mais
profundos de intimidade e amor, e desejos mais profundos de estar com ele na
sua missão. Conhecê-lo mais intimamente
para amá-lo mais profundamente, para segui-lo mais de perto.
Nos primeiros dias deste retiro, vimos a nossa história, através do exercício de imaginação ao olharmos as imagens no álbum de fotografias da nossa vida. Agora pedimos a Jesus para nos mostrar o álbum de fotografias dele. Desejando saber mais da vida dele, pedimos-lhe para nos mostrar tudo – contar-nos a sua história – para, assim, ficarmos mais apaixonados por alguém que conheceremos mais intimamente. Aquele que nos convidou para estarmos com ele na sua missão.
Nesta semana começamos pelo princípio. Imaginemos que na eternidade de Deus, a Trindade das Pessoas em Deus olhou para a história humana e repleta de infinita compaixão deu a Jesus a missão de nos salvar. A incrível fotografia de Sarajevo, Bósnia e Herzegovina, ajuda-nos a imaginar o alcance da história humana que evocou a compaixão de Deus. Sabemos que a expressão do amor de Deus deu-nos a história da nossa salvação – preparação, promessas, expectativa e finalmente o nascimento de Jesus e sua vida, morte e ressurreição por nós.
Vamos usar os
auxílios desta semana para penetrar no mistério da Encarnação, a escolha de
Deus para redimir o mundo. Revimos tudo que pecado e rebelião no nosso mundo
significaram, incluindo o nosso pecado pessoal. Agora, imaginemos a resposta de
Deus ao pecado do mundo – a missão de Jesus. Comecemos por expressar o nosso
desejo de conhecer as suas origens para nos apaixonarmos mais profundamente por
ele e unirmo-nos à sua missão, se ele nos convidar.
Na vida diária, apaixonar-se não pressupõe ajuda prática para que ocorra. Acontece. Parece fácil apaixonarmo-nos. No entanto, se refletirmos, a paixão tem de fato alguns elementos, vindos dos nossos desejos, que podemos examinar para as semanas vindouras. E todos nós reconhecemos que, levar avante um relacionamento amoroso que conduz ao sacrifício pessoal por amor, requer fidelidade.
Pensemos na experiência de nos apaixonarmos. O que permite que isso aconteça? O que fazemos nos primeiros estágios? Começa com o que chamamos de uma conexão? Talvez seja uma conexão com uma pessoa totalmente estranha. Alguma coisa acontece em nossos corações que nos anima. No centro da atração está a descoberta de uma comunhão de certa forma. Conectamo-nos. A partir daí, a atração cresce alimentada pelo desejo, às vezes insaciável, de estar com a pessoa que amamos. O amor crescente alimenta o desejo pela união – um desejo de estar com o outro e levar o relacionamento a graus de profundidade além da nossa imaginação. No princípio isto pode ocorrer inconscientemente, mas logo percebemos que estamos apaixonados. Começamos a agir segundo tal amor. Pensamos, sonhamos acordados enquanto fazemos coisas diversas. Chamamos a outra pessoa com maior freqüência e fazemos tudo para ficar mais tempo juntos. Lembramos e repetimos as nossas conversas. No princípio falamos sobre tudo ou nada especial. Nada sobre o outro nos aborrece. Queremos saber tudo sobre as escolhas e experiências de vida do outro, gostos e aversões e o que o faz a pessoa que ele/ela é. E a cada nova descoberta, há um novo laço. Procuramos maneiras de expressar nosso amor, por palavras ternas, atos de carinho, por deixarmos de atender a nós próprios para ajudar o outro. Qualquer expressão aprofunda o amor. Sempre nos lembramos dos primeiros gestos de amor. E quanto mais o amor cresce, mais nos leva a um cerco grau de compromisso – uma necessidade de garantir que a pessoa amada sempre esteja comigo e o compromisso de me oferecer, doar inteiramente ao relacionamento.
Se o que dizemos acima realmente está, de certa forma, de acordo com a nossa experiência de nos apaixonarmos ou trás à lembrança experiências do passado, então ajudar-nos-á, de um modo prático, nas semanas vindouras. Estamos no processo de nos apaixonarmos por Jesus. Deixemo-nos sentir a atração crescente baseada em uma conexão. Deixemo-nos experimentar o nosso desejo crescente de estar com Jesus – para fazer perguntas, nos expressarmos com palavras ternas, passar mais tempo juntos.
Tudo isto é uma ajuda prática, porque não é apenas um exercício intelectual para pedir a Jesus que nos mostre o seu álbum de fotografias. É um assunto do coração. A esta altura do retiro, nós estamos já profundamente ligados a Jesus. Agora desejamos deixar o nosso relacionamento aprofundar-se.
As primeiras páginas do álbum de Jesus levam-nos ao princípio e mostram-nos uma imaginária cena da Trindade a olhar a história da humanidade e sentindo o que podemos somente chamar de compaixão de quebrar o coração.
Imaginar a compaixão de Deus ao enviar Jesus ao nosso mundo, às nossas vidas, pode ser uma experiência tocante. Conservemo-la. Quanto mais imaginamos as cenas de Sarajevo tocadas pela compaixão de Deus por Jesus mais entendemos quem é Jesus. Jesus está para nós a uma profundidade inimaginável. Jesus entra na nossa humanidade. Completamente. Que vulnerabilidade! Em nenhum aspecto da minha vida eu estou sozinho (a).
Ao longo desta semana, digamos estas palavras: “Senhor, ajuda-me a conhecer-te completamente para amar-te com maior intimidade, e possa estar contigo em maior completude.” Ou cantemos a adaptação de Godspell com as palavras de Santo Inácio: “Oh, meu Senhor, rezo por três coisas: para ver-te mais claramente; amar-te cada vez mais; seguir-te cada vez mais junto a ti – dia após dia.”
À noite, antes
de ir dormir, por um breve momento, pergunto o que eu devo dizer a Deus, a
Jesus. E, obviamente, alegrar-me-ei com o deleite interior do amor crescente e
a atração por mais.
O poder de atração começa ao observarmos os gestos da outra pessoa. Revelamo-nos em cada movimento das mãos, da face, das pernas, do corpo todo. Contamos aos outros quem somos sem percebermos, simplesmente, pelo modo de andar, levar a bolsa ou os livros. Quanto mais físicos, mais disponíveis para sermos conhecidos. Pelos gestos, então, movemo-nos do mistério para a história. Convidados para os Exercícios Inacianos, para contemplarmos a vida de Cristo, urge-nos observar Deus mover-se na nossa história por ações físicas ou gestos de Deus-feito-homem, Jesus.
Deus fez muitas
tentativas para atrair a nossa atenção e resposta pelas alianças com os nossos
ancestrais, os Judeus. Gestos que começaram, continuaram por séculos. A corte à
família humana. Agora observamos o aumento da intensidade com que Jesus nos
chama. Se a suspeita precisa de distância, então o nosso lado calculista
precisa permitir-lhe apresentar o seu drama de gestos ante os nossos olhos e
corações. Se o preconceito precisa da ignorância que a distância dá, então
permitamos que Jesus informe nossas mentes e vontades para fazermos parte da
sua tropa
Meu Deus, Como te sentes ao olhar para o mundo que tu criaste? Vês a beleza, a natureza, as pessoas cuidando umas das outras, as crianças nascendo. Mas há o outro lado. Não consigo imaginar quanta desgraça tu vês. Crianças famintas a morrer nos braços das mães; armas planejadas para proteger as pessoas tornando-se mais importantes do que essas pessoas; gente cansada, solitária a vaguear pelas ruas, não somente sem ter um lugar para morar, como também, sem dignidade e respeito.
Do conforto da minha própria casa, segura e aconchegante, olho a fotografia desta semana. As casas bombardeadas, a fumaça, florzinhas na árvore. Muda, rapidamente: de outra fotografia duma zona de guerra para um bairro vizinho. Daquelas casas as pessoas haviam ido para o trabalho, celebrado eventos da família, conversado sobre cerimônias de casamentos próximas e livros, pedido farinha emprestada aos vizinhos. Agora tudo se foi, resta fumaça do cascalho.
Como olhamos para tal mundo onde nós destruímos as casas uns dos outros, derramando produtos químicos nas águas e valorizando dinheiro e propriedades mais do que a vida humana? Dá para sentir grande tristeza. Meu Deus, as tuas criaturas esqueceram-te.
Mas num incompreensível ato de amor, a tua compaixão leva-te a uma doação total de ti mesmo ao mundo que criaste. Expressas o teu amor por nós de uma maneira incomum – tornas-te um de nós. Como podes amar-nos tanto? Sabendo que significa dor, luta e morte?
Oh, meu Senhor, ensina-me a amar mais. Imploro-te, por favor, deixa-me ver e sentir como viveste a tua vida na terra. Quero-te conhecer ainda melhor e estar contigo neste mundo. Quero aceitar o teu convite, para te dizer sim. Agora, por favor, vamos ficar amigos como se estivesses aqui na terra. Permite que eu aprenda, converse contigo. Deixa-me ver como posso moldar a minha vida semelhante à tua vida.
Temo o teu amor
por nós – por mim. Não encontro palavras para expressar-me, com exceção de um
mesquinho “obrigado (a)” que soa tão inadequado. Leva-me pela mão, meu Senhor.
Conversa comigo. Mostra-me o teu |