Guia:
Tensão e Hipocrisia
Nas últimas onze semanas contemplamos a vida de Jesus.Ele mostrou-se para nós ao examinarmos a sua missão e o nosso modo de viver. Consideramos dois tipos de desejo na Semana 17 e três tipos de respostas na Semana 18. Ao contemplarmos a chamada dos discípulos, na Semana 21, consideramos “três graus” de estar com Jesus.
Agora começamos a contemplar como tudo isto é representado na vida de Jesus. Começamos a sentir a tensão desenvolver-se ao Jesus falar mais e mais profeticamente. Ao fazermos as leituras, cresce o nosso temor pela sua liberdade e pureza. Ele percebe a hipocrisia e nomeia-a. O medo da vingança não o detém, de modo algum, de denunciar a injustiça. Jesus sabe o que acontece aos profetas. Suas palavras vêm da mais pura pobreza e indiferença. Ele está pronto a entregar-se à humilhação e rejeição e à morte em si, porque se tornou um humilde servo de sua missão.
Esta semana queremos refletir sobre tensão e liberdade. Continuaremos a pedir para estar perto dele para que nos mostre o lado profético de seu espírito. Jesus é o professor, o médico e aquele que clama por justiça, mesmo à custa de sua própria vida.
Em todos os momentos de background da semana, imaginemos as palavras de Jesus que confrontariam a hipocrisia. É possível sentir a tensão e a liberdade do seu espírito aí. Abramos os nossos corações. Falemos com Jesus sobre o amor e admiração que nos inspira, e o desejo de estar com ele numa vida justa.
Os auxílios para começarmos “Para a
Caminhada” e as preces ajudar-nos-ão esta semana. A foto da semana inspira-nos
e torna-se um símbolo do nosso desejo para a missão. O falecido Pe. John
Cortina, SJ, um dos mais inspirados jesuítas
Um herói inspira-nos. Ele é alguém que mostra coragem em arriscar-se para levar a cabo uma tremenda tarefa. Esta semana, deixemo-nos inspirar pelo heroísmo em Jesus. É o seu espírito que inspira e permite a visão e liberdade de incontáveis mártires e testemunhas ao longo dos tempos e até nos dias de hoje.
Para começarmos, precisamos ler os trechos
dos Evangelhos e realmente sentir o que era confrontar os líderes religiosos
daquela época. Para termos um exemplo da inspiração poderosa do espírito
profético de agora, na nossa época, vejamos três filmes: El Salvador, Romero e Rosas
Aproximamo-nos da vida de Jesus que o levará a Jerusalém onde entregará a vida. Ele faz isto não como vítima passiva e insignificante de alguma força insana. Jesus disse que havia se tornado a Palavra de Deus para nós.
Movemo-nos ao longo destas semanas do retiro com parte de nossos corações e mentes refletindo sobre como esta experiência nos mudará. Nosso desejo de escolher com mais liberdade – que está a ser moldado pela nossa crescente admiração e amor por Jesus -- torna-se mais e mais concreto. Continuamos, esta semana, a deixarmo-nos aproximar de Jesus, porque o nosso desejo de estar com ele vai transformar a nossa vida cotidiana.
Ao acordarmos, revogamos a sua profética claridade. Afinal, ele veio para proclamar a liberdade aos cativos e trazer a boa nova aos pobres como advogado deles. Durante o dia, em todos os momentos de obscuridade, estaremos mais sensibilizados para perceber as forças ativas que são contrárias a valores religiosos, contrárias à dignidade da vida humana, contrárias à justiça. Ao lermos o jornal ou ouvirmos as notícias, ouvimos melhor o grito do pobre no mundo e sintonizar-nos-emos com as vozes que clamam em prol de valores e justiça. À noite, demos graças ao Senhor por nos mostrar quem ele é para nós e como ele é, mesmo agora, atraindo-nos para ele, mulheres e homens a serviço dos outros.
Consideremos compartilhar as graças que
recebemos com as outras pessoas que fazem este retiro, indo ao retiro online e “clicando” em “Partilha.” As
graças que recebemos podem ajudar, sem nunca o sabermos, a levar coragem e fé a
outras pessoas.
Esta semana rezamos com um homem em conflito, não com ele próprio, mas com aqueles que o ouvem, pois o que diz é novo e diferente. Os Fariseus e seus escribas e líderes religiosos daquela época, eram fieis às suas tradições antigas. Conheciam muito bem as escrituras e a arte de pesquisá-las em busca de sabedoria e significados profundos. Jesus é educado nas mesmas tradições religiosas. No entanto, ao discutir com os Fariseus, analisa de forma diferente as mesmas escrituras. Jesus é visto como um rebelde e agitador. A fidelidade deles ao confrontar-se com a fidelidade pessoal de Jesus causa tensões que levam, com freqüência, Jesus a ser confrontado com o que dizem os Evangelhos.
Poderíamos facilmente rezar com tal oposição aos ensinamentos de Jesus nas nossas próprias vidas. Durante as semanas passadas, rezamos com a história da nossa resistência aos seus caminhos. A tensão contínua entre os nossos caminhos e os de Jesus sempre constituirá o drama do nosso próprio seguimento.
Esta semana, é mais apropriado, no entanto, rezarmos com Jesus vendo-o como um homem pacífico que se aceita como enviado de Deus. Inácio leva-nos a contemplar a liberdade de Jesus que advém do fato de ele ter ouvido e acreditado quem ele é aos olhos do seu Pai celeste. Ele sabe quem ele é e aceita também a santidade das antigas tradições e práticas que seus ensinamentos constroem e, no entanto, são desafiadoras. Observamos e ouvimos uma pessoa fiel tanto a si própria quanto a seus conflitos.
Jesus é livre para ouvir os argumentos contra ele e seus caminhos. Deseja ligar-se aos seus oponentes como estava ansioso a ligar-se a doentes e carentes ao seu redor. Fidelidade não implica inflexibilidade. Jesus, intrépido, permanece aberto ao diálogo, mesmo às ameaças. Daí, a palavra apaixonado. Para Inácio, a palavra apaixonado refere-se à abertura ardente para o que é oferecido – seja lá o que for. Vemos este homem de paixão, de coração aberto, sempre disponível como alguém a ser tanto reverenciado quanto ofendido.
Ao escutarmos Jesus esta semana, peçamos a
Deus aquela espécie de aceitação pessoal que nos liberta tanto de conflitos
internos quanto de temores de sermos rejeitados por aqueles que podem temer a
nossa liberdade e nós mesmos. Aceitação de si próprio (a) é mais do que uma
conclusão psicológica. Convidam-nos a aceitar o ser humano criado, redimido,
abençoado, enviado que encontrou aceitação
Querido Jesus, Como consegues fazer isso? Rezei esta semana com as leituras e percebo como os teus encontros com os líderes religiosos e políticos ficam cada vez mais tensos. Percebo como, cada vez mais, os ameaças e criticas. E o que me arrasta ainda mais para ti, é a paz e tranqüilidade que te cerca.
Observo que tu enfrentas as autoridades em quem não confias. Olhas para eles nos olhos, és capaz de confrontá-los e levantares a voz. Assusta-me uma pessoa com raiva, mas não a tua raiva aqui. Parece-me justa. Tu pareces tão claro sobre o que é certo e o que é errado e não tens medo em relação à tua segurança. Parece-me que o teu único pensamento é ser fiel à pessoa que Deus te chamou a ser.
A tua própria idéia de quem tu és libertou-te para servires a Deus de um modo que não consigo imaginar. Sinto-me tão limitado (a) pelos meus medos e trepidação, mas assim mesmo, tão arrastado (a) para a liberdade que vejo em ti, a liberdade de servir a Deus. Ajuda-me, Jesus, a ver onde Deus me chama para servir. Vejo tantas coisas, no mundo, no meu país, na minha cidade, até na minha família que estão erradas ou são injustas. Mas tenho medo. Como posso mudar? Como posso lidar com o confronto? E, até mais importante: o que Deus me chama a fazer?
Ao observar-te, meu querido amigo, o meu amor pela tua força e liberdade na maneira de servir a Deus cresce. Isso me fascina. Quero essa habilidade para servir a Deus, desembaraçada de todos os meus medos. Tu pareces ter tal senso de quem és e de como és chamado por Deus para servir! Quero tanto ser suficientemente corajoso (a) para confrontar as estruturas e autoridades que eu vejo que estão erradas. Mas, meu Jesus, eu tenho medo, o confronto traz-me recordações assustadoras que precisam de cura, e eu preciso sentir o teu amor e liberdade para servir de todo o meu coração. Nunca fui um lutador, somente alguém que foge dos conflitos.
Mas ao estar contigo esta semana, percebo que as confrontações constantes com as autoridades parecem dar-te mais paz e determinação. É como se tudo ficasse mais claro para ti: sabes quem és tu e para o que Deus te chama.
Isto é o que eu quero, meu Jesus. Quero estar apto (a) a levantar a cabeça e, como tu, olhar as pessoas nos olhos ao desafiá-las. Quero a coragem de falar por aqueles que precisam de ajuda. Quero a coragem de ficar ao teu lado em tudo isto; trabalhar como tu pela justiça; e trazer boas notícias para os pobres.
Obrigada por compartilhares tanto da tua
vida comigo. Sinto o meu amor e o meu contacto contigo aumentar ao te conhecer
melhor cada dia. Obrigada por me convidares a estar contigo na tua caminhada.
Dá-me a coragem que preciso para caminhar como tu.
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