Guia para o Retiro
Online – Semana 28
Jesus
Entrega-se à Paixão
A foto desta semana é da capela dos
Jesuítas da Universidade da América Central
Ao longo dos séculos, conta-se a paixão de Jesus para ajudar os crentes a entender o mistério do sofrimento e como a entrega de Jesus derrota o poder do pecado e da morte.
Neste ponto do retiro, estamos preparados para contemplarmos, minuciosamente, a paixão de Jesus. O nosso desejo é entrarmos na história do Evangelho e ficar lá com Jesus. Queremos ser tocados pelo poder do seu drama. Aquele que amamos e de quem queremos estar perto, convida-nos a participar da sua história para sentirmos o seu sofrimento com ele. A profundidade da nossa compaixão por ele leva-nos a uma intimidade ainda mais profunda. Consideremos cada parte da história e tenhamos a experiência do seu significado. A luta no jardim para render-se, a traição, a prisão e o abandono de seus discípulos; os interrogatórios; o escárnio, a coroação com espinhos, os açoites e o caminho para o calvário são cenas que devemos ter em mente, esta semana
Esta semana ao longo do dia, conheçamos o profundo amor de Jesus por nós. Ao passarmos pelas lutas comuns da vida e enfrentarmos os desafios mais difíceis de nossas vidas, queremos sentir a solidariedade de Jesus conosco. Ao contemplarmos o significado da sua paixão, queremos ver a sua solidariedade por todos os que sofreram, sofrem e sempre sofrerão.
Esta semana, usemos os recursos para
começarmos em estado de oração e refletirmos mais profundamente. Consideremos
rezar a Via Sacra, uma poderosa devoção centenária, como recurso para a nossa
caminhada esta semana e a próxima. Há uma versão da Via Sacra na página do retiro online. Basta clicar no link “Stations of the Cross”, à
esquerda.
Toda a noite, nós devemos agradecer pelas graças que recebemos ao vivermos mais conscientes do grande amor de Jesus por nós.
Começamos esta semana lendo o relato de Mateus (Mateus 26:14 – 27:66 ). É talvez a história que melhor conhecemos, mas podemos refrescá-la ao torná-la o foco consciente da nossa semana. O que nos dará imagens vívidas sobre as quais podemos refletir sobre contexto do dia a dia, esta semana.
A Última Ceia (Mateus 26:14-30)
Refletimos sobre a Última Ceia na semana passada. Agora temo-la como foco, porque começa a Paixão. Quando lemos sobre a traição de Judas e a promessa de Pedro de nunca negar Jesus, temos proventos para a semana. Digamos como Pedro, “Mesmo que tenha de morrer contigo, nunca direi que não te conheço.” Ao longo da semana, é possível tornar-me altamente consciente das ocasiões em que escondo o quanto conheço Jesus.
O
Monte das Oliveiras (Mateus 26:36-56)
O monte das oliveiras é uma imagem muito forte de Jesus pedindo a seus discípulos para rezarem com ele. Como resposta, adormecem. A semana inteira, em pequenos intervalos, lembremo-nos que Jesus nos quer junto dele, orando sobre a Paixão esta semana. É importante para nós ver Jesus agonizar em oração durante a sua entrega. Ao longo da semana ouçamos as suas palavras que moldarão a maneira de fazermos as nossas escolhas para nos abrirmos aos desejos de Deus. Fazer uma pausa para estar com Jesus quando é beijado por um amigo traidor, enquanto todos os seus amigos fogem, é forte comunhão com aquele que amamos em um momento de profundo abandono.
O
Julgamento Religioso ( Mateus 26:57-68)
Caifás e os líderes religiosos não aceitam Jesus. Como deveria ter sido doloroso para Jesus fracassar frente ao povo que ele veio salvar! Escarnecer da sua revelação como acusação para ser condenado, deve tê-lo ferido muito. A semana toda vou concentrar-me neste aspecto da paixão, ao observar o quão pouco ele é aceito em nossa cultura hoje.
Judas
e Pedro (Mateus 26:69-27:10)
Ambos traem Jesus. Judas não percebe que Deus podia perdoá-lo, então, suicida-se. Quanto Jesus deve ter se afligido com o desespero de Judas. Pedro transforma-se após ter negado Jesus. Está apto a seguir Jesus como líder, com humildade e gratidão.
O
Julgamento Romano (Mateus 27:11-21)
O julgamento romano é cheio de ironias. Jesus não terá a sentença de morte comutada. Pilatos lava as mãos e diz que acha que Jesus é inocente, mas manda que o açoitem e executem. Recordemos o seu julgamento esta semana enquanto tristes, ultrajados, gratos pelo que Jesus sofreu por nós.
O
Caminho do Calvário (Mateus 27:22-66)
Há uma prece online chamada “As Estações da Cruz” que nos ajudará na contemplação da Paixão. Talvez possamos fazer uma ou duas estações por dia, para participarmos mais profundamente do caminho de Jesus. A graça que desejamos é sentirmos cada vez mais compaixão com Jesus e sabermos bem que isto tudo é uma experiência do seu amor, por mim.
Rezemos com o salmo 22. Os evangelistas devem tê-lo achado uma fonte poderosa de inspiração e que Jesus deve ter usado esta prece na sua luta e confiança em Deus.
Comecemos cada dia focalizando uma parte deste mistério, talvez por uns poucos minutos enquanto fazemos alguma coisa da nossa rotina (calçar os chinelos, no chuveiro, ao vestirmo-nos). Ao longo do dia, lembremo-nos destas reflexões no background da nossa consciência. Observemos o mistério da Paixão de Jesus que se revela nas menores coisas que vejo e sinto no meu dia. Todos os dias, expressemos a nossa gratidão pelo que aprendemos e sentimos na Paixão de Jesus, esta semana.
Movemo-nos com Jesus do andar de cima onde ele lavou os pés dos amigos para o jardim da obediência onde ele lava a terra com o seu suor e sangue. Não tem apoio algum, exceto o do seu Pai, com quem agora fala face a face. Esta semana de observação leva-nos ao silêncio e humildade, porque tudo isto é para mim, para nós. Esvazia-se o palco dos outros personagens e nós juntamo-nos aos apóstolos, à distância. Eles viram-no rezar sozinho antes e, por isso, desgarraram-se à espera do próximo capítulo. Por outro lado, nós estamos acostumados com esta cena e sabemos o que vem logo depois. Por um momento, observemos este homem divino em combate espiritual. Há o conflito interno entre os seus desejos humanos para viver capítulos empolgantes e a sua divindade, que foi moldada de acordo com a vontade do Pai ao longo da sua vida inteira.
Houve o jardim da desobediência onde este drama começou. O amor de Deus por nós foi interrompido pelo nosso amor indulgente por nós próprios. Havia uma árvore da qual não devíamos comer. Agora, observamos Jesus, o novo Adão, de joelhos em um jardim, totalmente consciente do bem e do mal ao seu redor, preparando-se para comer da fruta da árvore que nos trará, a todos, de volta à vida. O mal se prepara para dar o último grito de vitória. É silêncio agora e ele percebe a presença do Divino Bem, que já sentira antes, dizendo que ele é o seu Bem Amado. Ele é o Bem que em breve lutará com as forças da desobediência.
O barulho destas forças intromete-se nos nossos momentos de observação. Abandono e negação tornam-se personagens centrais, mas olhemos Jesus nos olhos. Ele recebe os desafios à sua bondade dos soldados e do seu amigo Judas. Ouvimo-lo responder, “Sou eu.” Ele começa as horas finais de fidelidade a quem ele sabe quem Ele é: o Ungido, o Cordeiro agora levado ao sacrifício.
Estas ocasiões de oração para nós são tranqüilas e delicadas. Estamos ao dispor de Deus feito homem lutando para nos revelar o seu amor fiel e a importância da nossa fidelidade a quem nós somos. Nós também somos os ungidos levados a lutar contra as forças do mal. Observemos os seus olhos quando ele procura Pedro durante e depois do próprio encontro de Pedro com as suas fraquezas. Jesus não é uma marionete atuando em uma charada da vida. Escutemos o barulho que cerca o seu silêncio e observemos as suas respostas físicas ao abuso e violência.
Com Inácio vimos o Criador dar-nos tudo que Ele havia criado. Na nossa prece vimos Deus dar-nos presentes e ser misericordioso conosco de várias maneiras. Esta semana vemos Jesus entregar-se ao martírio por nós. Ele também nos convida para sermos fieis nas nossas lutas entre o bem e o mal. Observemo-lo quando olha para nós.
Querido Jesus, Vim rezar esta semana para estar contigo no teu sofrimento, mas a primeira coisa que vi foi a fotografia da semana. Ampliei-a e olhei-a fixamente. Que tem a ver contigo? Quero rezar para ti, não para pessoas que eu não conheço. Mas espera. Quem sabe a minha agenda não é igual à tua.
Olho a fotografia do desenho de El Salvador que faz parte das Estações da Via Sacra. Vejo as marcas das chibatadas nas costas deste homem e desta mulher. Vêem-se somente as costas, mas percebo que a mulher está nua da cintura para cima. Deve sentir-se tão vulnerável, exposta e desamparada quando os seus algozes tentam tirar-lhe todo o trapo de dignidade.
E eu fico contigo no Evangelho, quando te vergastam, batem, escarnecem de ti e desnudam-te. Vejo-te quando lutas para te entregares a Deus. Vejo o medo, a vulnerabilidade que deves sentir, mesmo quando te entregas totalmente a Deus. Nunca paras de rezar quando eles te martelam com perguntas, tratam-te com escárnio. Estás com o Pai em espírito, porque esse é o único caminho que conheces para continuar a missão que Deus te deu.
Esta semana andarei contigo e passarei tempo contigo nestes acontecimentos. Junto-me a ti na Ultima Ceia e no jardim. Não agüento ver-te a ser julgado e sinto-me tão desamparado (a) ao ver-te, meu querido amigo, a ser empurrado para a morte inevitável. Sei que as próximas horas serão tão terríveis e eu quero estar lá para ti, mas acho que me escondo como Pedro, fingindo não te conhecer, com medo de mim mesmo.
É somente quando faço a Via Sacra que vou passo a passo contigo. Vou contigo por caminhos e atalhos, porque eu vejo como fizeste tudo isto por mim. Como agradecer-te por tudo que fizeste? Carregarei comigo essas imagens ao longo da semana.
Então, olho outra vez a foto das duas pessoas. Quero estar contigo, participar da tua história, esta semana. Mas eu continuo pensando nas pessoas da fotografia. O que aconteceu com elas? A tua história é antiga, conheço-a bem. A delas, não. No entanto, são muito reais também. Onde estão hoje essas pessoas tão reais, Jesus? Estão ainda vivas? Onde estás tu, Jesus?
Olho a fotografia outra vez, e agora vejo-te. Como não te via antes? Tu estavas lá todo o tempo, ao pé deles ao serem vergastados, amarrados, despidos e vulneráveis. Tu estavas ao lado deles na dor e sofrimento, compartilhando tudo isso com eles. Estavas lá para eles, levando-os para mais perto de Deus.
Obrigada, Jesus, por estares com eles de um modo que eu não poderia. Obrigado por estares comigo. Por favor, deixa-me estar contigo em cada momento da tua agonia esta semana, ao tentar reconhecer-te nos sofrimentos diários da minha vida.
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